Castro ou povoado de encosta, o primitivo núcleo habitacional de Alenquer terá sido mais tarde romanizado (séculos II a.C. a III d.C.).
Bento Pereira do Carmo faz menção da descoberta de moedas dos imperadores Trajano, Adriano, Antonino Pio e outros, quando se reformou o Castelo com obras de terra, para fazer rosto à invasão francesa de 1810.
Inclui ainda este autor, numa relação de inscrições lapidares antigas localizadas por si, e na sua maioria romanas, uma pedra achada em 1782 no quintal do Padre Pedro Taveira, junto ao Castelo, declarando serem, para si, enigmáticos os carateres nela gravados, e reprodu-los então conforme registo que deles fizera Fernando Dantas da Cunha e Brito, falecido em 1787, escrivão dos orfãos de Alenquer e curioso de antiguidades, reprodução essa que, como as de todas as outras inscrições, já não aparecerá quando os textos de Pereira do Carmo são publicados entre 1888 e 1890.
Por volta de 1780 foi demolida uma torre denominada de São Prisco, conforme relata também Bento Pereira do Carmo, a partir de uma lembrança de uma testemunha ocular que lhe chegou às mãos. Conta ele que na dita torre abundavam os cipos e marmores romanos, que depois da demolição foram aplicados como alvenaria ordinaria na construção da capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo na Praça da Vila (atual Praça Luís de Camões). E lamenta-se: visitando pessoalmente a capela à cata de antiguidades, nem uma só destas pedras históricas vi à flor da parede.
Além destas, notícias de vestígios romanos já só para a Alenquer extramuros. Na igreja de Triana, ou mais concretamente à porta da igreja de Triana, da parte direita quando entramos, existiu um cipo com inscrição reproduzida por Frei Agostinho de Santa Maria no seu Santuário Mariano. Bento Pereira do Carmo procurou-o por 1840 mas já não o encontrou, atribuindo o seu desaparecimento “talvez” à ruína da igreja com o terramoto de 1755.
Vários autores fazem coincidir a cidade de Ierabriga ou Lerabriga, referida no Itinerário, com Alenquer, ou melhor, com uma zona pouco distante da vila, a sul, onde maior e mais variado número de vestígios foi encontrado, entre o lugar das Paredes e as quintas do Bravo e das Sete Pedras. Nas Paredes existiam ainda em meados do século XVIII as muralhas ou paredes de um aqueduto que conduzia águas para a referida Quinta do Bravo. Pela mesma altura, o pavimento duma adega desta quinta, sugeria ter ali existido sumptuoso edifício. Bento Pereira do Carmo, que terá visitado o local por 1840, diz que ainda ali se descobriam pedaços de mosaico. Empregadas em usos domésticos foram as pedras das sepulturas romanas desenterradas junto à quinta, conforme Pereira do Carmo, em sítio a que chama Barrada. Da mesma Quinta do Bravo é proveniente um cipo que desde finais do século XIX se guarda no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.
Em 1934 descobre Hipólito Cabaço uma extensa necrópole lusitano-romana, datável do século I d.C., que explora em parte, entre Paredes e Sete Pedras, cerca de 1 km² de tumulizações sucessivas por incineração e inumação, segundo Maria Amélia Horta Pereira, que estudou o espólio de uma sepultura de incineração, constituído por cerca de 60 objetos, entre eles, o dolium e o mobiliário da sepultura, composto por jarrinha, lucerna, skiphos, pratos e taça de terra sigilatta, unguentários, boiões, taças e copos em vidro, marca de jogo em osso, fíbula, fivelas, botões, argolas, campainha e outras peças em bronze, ponta de dardo em ferro, pregos em cobre e ferro e até um pequeno fragmento de mosaico. Estes achados fazem hoje parte da exposição permanente do Museu Municipal Hipólito Cabaço.
A estes se vieram juntar mais tarde, provenientes da Quinta do Bravo, uma pequena ara de mármore, descoberta, quando se procedia à abertura de um poço e uma lucerna com “bico” quebrado. Na Quinta de Santa Teresa, próxima também da antiga necrópole, se descobriu um relógio de sol, em mármore, e um fragmento de coluna com inscrição latina.
Depois de se referir à Quinta do Bravo e às Paredes, escreve Bento Pereira do Carmo: Na Quinta da Barradinha, situada um pouco mais longe, sobre a continuação das colinas, ao sul da várzea de Vila Nova, se descobriu, em dezembro de 1839, uma sepultura no pendor da colina para o campo, encerrando um esqueleto, que um proprietário não pode salvar da sacrílega mão dos trabalhadores, fazendo apenas menção de que a cabeça estava voltada a Oriente.
Pela parte superior desta quinta encontram-se espalhadas muitas pedras, quando o sítio não as dá, alguns lanços de parede subterrâneos, e grandíssima quantidade de telhas e tijolos de tamanho descomunal, alguns menos quebrados têm sido postos em reserva, como raridade; os entulhos (que assim lhe podemos chamar) continuam na mesma direção até ao Casal da Telhada.
Bem sei que estas ruínas equívocas e sem caracter que o tempo engoliu, como faz a tudo, e fez ás moedas que por entre elas apareceram e vão aparecendo, põe a questão fora de toda a dúvida. Pertencem estas moedas, de que o proprietário vai fazendo coleção, aos imperadores Trajano, Adriano, António Pio e outros. O proprietário da quinta, naquele tempo, seria o próprio Bento Pereira do Carmo.
O Museu Municipal possui algumas peças lusitano-romanas encontradas na Barradinha, das quais se destacam uma mísula ou capitel de mármore branco e um fragmento de asa de ânfora com marca de oleiro.